Na nona edição da pesquisa realizada pelo Valor Econômico em colaboração com a consultoria estratégica da PwC, a Strategy&, as atenções se voltaram para o desempenho e a disciplina das empresas brasileiras, buscando identificar as líderes em inovação no país
Na nona edição da pesquisa realizada pelo Valor Econômico em colaboração com a consultoria estratégica da PwC, a Strategy&, as atenções se voltaram para o desempenho e a disciplina das empresas brasileiras, buscando identificar as líderes em inovação no país. O resultado revela um seleto grupo de organizações que não apenas investem em inovação a longo prazo, mas também tratam esse tema como um pilar fundamental de suas estratégias corporativas.
O Ranking das Mais Inovadoras:
Suzano - Papel e Celulose
Petrobras - Petróleo, Gás e Petroquímica
Einstein - Serviços Médicos
Embraer - Bens de Capital
WEG - Eletroeletrônica
Natura Cosméticos - Cosméticos, Higiene e Limpeza
Vale - Mineração, Metalurgia e Siderurgia
Grupo Boticário - Cosméticos, Higiene e Limpeza
Mercado Livre - Comércio
CNH Industrial - Automotivo e Veículos de Grande Porte
O que impulsiona o sucesso dessas empresas?
Essas empresas de destaque têm mais em comum do que apenas suas posições privilegiadas no ranking, elas compartilham várias abordagens e estratégias que as tornaram líderes em inovação.
As empresas mais inovadoras do Brasil não são apenas líderes em seus respectivos setores, mas também exemplares em sua abordagem à inovação. Elas não apenas investem em pesquisa e desenvolvimento, mas também integram a inovação como parte essencial de sua cultura corporativa, permitindo que se mantenham na vanguarda da competitividade global.
Ao sondar mais profundamente as características que diferenciam as empresas mais inovadoras do Brasil, encontramos pontos de destaque que formam a espinha dorsal de suas estratégias. Esses pontos não apenas refletem uma abordagem única à inovação, mas também moldam a maneira como essas organizações lideram em seus respectivos setores. Abaixo, vamos apresentar quais são os de maior destaque.
Utilização da Lei do Bem
A maioria dessas empresas tem aproveitado os benefícios da Lei do Bem desde o começo da legislação, revelando um compromisso sólido com pesquisa e desenvolvimento que perdura há mais de uma década. Esse comprometimento se traduz não apenas em resultados quantitativos, mas também em uma visão abrangente da inovação dentro de suas estruturas.
A Lei do Bem, nesse contexto, proporciona mais do que incentivos fiscais. Ela oferece uma janela transparente da inovação que ocorre dentro das organizações: onde os esforços estão sendo direcionados, quais áreas estão sendo priorizadas e como os recursos estão sendo alocados para impulsionar a mudança. Essa visão global permite às empresas delinear estratégias claras para os próximos anos, aproveitando ao máximo seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
Ao longo dos anos de aplicação dos benefícios da Lei do Bem, essas empresas evoluíram consideravelmente em termos de gestão de projetos de inovação. Elas atravessaram barreiras tecnológicas, superaram desafios complexos e conquistaram a maturidade necessária para conduzir projetos de impacto substancial. Não se trata apenas de executar projetos inovadores, mas de fazê-lo com uma abordagem estratégica e sustentável.
Tomemos como exemplo uma das ranqueadas, a multinacional brasileira Embraer Em sua jornada de inovação, a empresa está desenvolvendo um projeto, ainda em fase de desenvolvimento, altamente disruptivo na área de tecnologia: o eVTOL, uma aeronave 100% elétrica capaz de decolar e pousar na vertical, pensada para operar curtas distâncias, levando quatro passageiros e o piloto e cuja meta para a certificação é 2026.
“Vamos fornecer os motores elétricos para a Eve Air Mobility, empresa nascida na Embraer-X, a incubadora de negócios disruptivos da Embraer, e focada no desenvolvimento de soluções de mobilidade aérea urbana, como o eVTOL. Mas também vamos vender para outras empresas”, diz Daniel Moczydlower, head global de ecossistemas de inovação da Embraer e CEO da Embraer-X.
Esses exemplos reforçam a ideia de que a Lei do Bem não é apenas um mecanismo fiscal, mas um catalisador de transformação empresarial. Ela promove a inovação sustentável, o crescimento estratégico e o impacto positivo em setores críticos da economia. Ao investir em pesquisa e desenvolvimento com visão a longo prazo, as empresas no ranking das mais inovadoras do Brasil não apenas mantêm sua competitividade, mas também moldam o futuro das indústrias em que atuam.
Centros de PD&I no Brasil
Elas estabeleceram Centros de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) no Brasil. Esse compromisso estratégico transformou essas organizações em verdadeiras referências nos seus respectivos segmentos, demonstrando um investimento significativo no talento local e na expansão de fronteiras tecnológicas.
Essas empresas compreendem a importância de alimentar continuamente o funil de desenvolvimento tecnológico. Por isso, investem em capacitação da equipe técnica, garantindo que os colaboradores estejam aptos a impulsionar o ciclo de inovação. Essa abordagem nutre a criação de produtos, processos e serviços que impulsionam o desempenho da empresa, permitindo-a permanecer como pioneiros do mercado.
A opção por estabelecer Centros de PD&I no Brasil não é apenas uma decisão logística, mas uma estratégia que reconhece as características específicas do país. Elas compreendem que incorporar essas particularidades aos projetos é essencial para o sucesso. Além disso, enxergam o potencial de inovação de base tecnológica presente no Brasil, transformando-a em uma diretriz estratégica.
PETROBRAS: Um Farol da Inovação
No setor de óleo e gás, a PETROBRAS brilha como exemplo notável de uma cultura inovadora. Com uma presença constante da inovação, a empresa se dedica a nutrir um ambiente onde as lideranças são treinadas e incentivadas para a criatividade. A formação é uma prioridade, com mais de 600 colaboradores do Cenpes possuindo mestrado ou doutorado. O Cenpes, situado no Rio de Janeiro, abriga uma equipe de mais de mil colaboradores dedicados à pesquisa e inovação.
EINSTEIN: Conectando Ensino, Pesquisa e Assistência
O Grupo Einstein não apenas investe em inovação, mas também integra ensino, pesquisa e assistência. O recente Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein – Campus Cecília e Abram Szajman é um exemplo notável desse compromisso. Esse espaço de mais de 44 mil metros quadrados representa um investimento de R$ 700 milhões e oferece uma gama de laboratórios, áreas de ensino e até espaços dedicados a inovação e análise de big data.
EMBRAER: Voando Rumo ao Futuro
A Embraer, conhecida por suas contribuições revolucionárias à aviação, não apenas cria projetos inovadores, mas também estabelece infraestruturas que apoiam essa inovação. Recentemente, inaugurou o Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) em São José dos Campos, juntamente com o ITA e a Fapesp. O CPE, batizado como FLYMOV, visa a análise da mobilidade aérea do futuro e terá investimento compartilhado de R$ 48 milhões. A Embraer envolve mais de quatro mil engenheiros em P&D, distribuídos em centros de pesquisa por todo o Brasil.
Modelo de Inovação Aberta e Corporate Venture Capital
Essa abordagem representa um compromisso com a colaboração, à medida que essas organizações abraçam startups, instituições de pesquisa e outros parceiros externos para forjar soluções inovadoras de forma conjunta. Ao mesmo tempo, investir em startups através de Corporate Venture Capital se tornou uma prática estratégica para estimular a inovação e identificar novas oportunidades de negócios.
A adoção do Modelo de Inovação Aberta e Corporate Venture Capital revela a compreensão dessas empresas sobre a complexidade inerente aos seus projetos inovadores. Elas reconhecem a importância de superar os desafios significativos que podem surgir no processo de desenvolvimento, e buscam especialistas e recursos externos para isso.
SUZANO: Parcerias Impulsionam Inovação:
Bertolucci, da Suzano, enfatiza que a inovação aberta é essencial nos dias atuais. Ele destaca que contar apenas com as capacidades internas não é mais suficiente para estruturar um departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) eficiente. A colaboração com startups, universidades e centros de pesquisa de outras empresas é uma peça fundamental para o sucesso da inovação, especialmente em um mercado em constante transformação.
PETROBRAS: Um Ecossistema de Inovação
O Cenpes, com seus 60 anos de existência, é um exemplo vivo da inovação aberta. Com mais de 95% de seus projetos realizados em parceria, ele se transformou em um ecossistema de inovação colaborativa. Maiza Goulart, da Petrobras, destaca que o Cenpes é uma prova viva de que o compartilhamento de conhecimento e recursos é uma força motriz poderosa para impulsionar a inovação. A Petrobras, através dessa abordagem, estabeleceu um ecossistema que reúne mais de nove mil pesquisadores, evidenciando a escala e o impacto da colaboração.
Foco em Sustentabilidade e Transformação Digital
A quarta dimensão que define as empresas mais inovadoras do Brasil é a centralidade que atribuem à sustentabilidade e à transformação digital em seus projetos. Essas organizações adotam uma abordagem pró-ativa, reconhecendo a importância estratégica dessas áreas para a competitividade futura.
NATURA: Compromisso Histórico com Sustentabilidade
Roseli Mello, líder global de P&D da Natura, enfatiza que a inovação é o meio pelo qual eles solidificam o compromisso histórico da empresa com a sustentabilidade. A empresa opera um modelo de negócio que se conecta com 40 comunidades fornecedoras, resultando na conservação de dois milhões de hectares de floresta. Esse enfoque ressalta como a inovação pode ser um catalisador para a transformação social e ambiental.
VALE: Rumo a um Aço Mais Verde
A Vale, por sua vez, alia inovação à sustentabilidade em uma indústria notoriamente intensiva em carbono. Em um teste marcante, a empresa substituiu o carvão antracito, que contribui significativamente para as emissões de CO2 na pelotização do minério de ferro, por biocarbono. Esse produto renovável, proveniente da carbonização de biomassa, marcou um passo crucial para um aço mais verde e uma produção menos impactante ao meio ambiente.
A escolha dessas empresas de priorizar sustentabilidade e transformação digital não é acidental. Elas compreendem que a inovação é a ponte que conecta os dois mundos, permitindo a criação de soluções tecnológicas que impulsionam a sustentabilidade e a competitividade. Esse casamento entre visão sustentável e digital não apenas redefine os padrões de operação, mas também desenha um caminho para um futuro mais responsável e eficiente.
Ao abraçar esses valores, as empresas mais inovadoras do Brasil não apenas impulsionam seu próprio crescimento, mas também lideram pelo exemplo. Elas demonstram que a inovação não é apenas uma ferramenta de negócios, mas um veículo para mudanças positivas em múltiplas dimensões: social, ambiental e econômica. Ao priorizar a sustentabilidade e a transformação digital, essas organizações estão construindo um legado de inovação que ecoará através do tempo.
Planejamento Estratégico de Inovação
Essas organizações não apenas buscam inovações de curto prazo, mas também projetam suas estratégias com uma visão que se estende por cinco anos, garantindo que a inovação permaneça intrinsecamente entrelaçada com seu destino.
MERCADO LIVRE: Semeando a Inovação para o Futuro
Fernando Yunes, vice-presidente sênior de commerce e líder do Mercado Livre no Brasil, compartilha a essência dessa abordagem. Ele ressalta que o horizonte de investimento da empresa abrange os próximos cinco a dez anos. Essa mentalidade, baseada em uma visão de longo prazo, encapsula o compromisso das empresas mais inovadoras em plantar as sementes do futuro. A inovação não é apenas uma resposta imediata às demandas do presente, mas uma estratégia para pavimentar o caminho para a evolução contínua.
As empresas que adotam o Planejamento Estratégico de Inovação entendem que a economia é cíclica, caracterizada por períodos de crise e momentos de crescimento. Ao lançar as bases da inovação em seus planos estratégicos, essas organizações se preparam para navegar com sucesso por esses ciclos.
A inovação não é utilizada como uma resposta reativa a situações específicas, mas como uma bússola que orienta suas ações ao longo das variáveis econômicas. E ao traçar o curso para os próximos cinco anos, elas estabelecem alicerces sólidos para a inovação permanecer como um fio condutor, guiando-as em direção a um futuro que elas próprias estão moldando.
Em conjunto, esses cinco pilares encapsulam a essência das empresas mais inovadoras do Brasil. Elas estão construindo um novo modelo industrial, onde a inovação não é um elemento isolado, mas uma força intrínseca que permeia todos os aspectos de suas operações. Essas empresas não estão apenas no presente; elas estão forjando um futuro, definindo os padrões de inovação e liderança para as gerações vindouras.
Nos horizontes do cenário empresarial brasileiro, essas empresas brilham como faróis de pioneirismo, oferecendo um caminho a ser seguido pelas demais que buscam manter sua competitividade no mercado. Embora essa jornada possa parecer distante da realidade de muitas, uma verdade inegável emerge: a inovação é a via essencial para garantir o crescimento econômico contínuo.
Precisamos entender que o começo da inovação não é um mar de facilidades, mas sim um campo de aprendizado onde os erros são valiosas lições. Moldar estratégias ao ambiente, ajustar o ritmo e progredir com cautela são elementos-chave desse processo. E assim ir construindo um modelo de inovação de sucesso para cada empresa.
A lição mais vital é, se inspirar nos gigantes, mas começar na pequenitude.
REFERÊNCIA:
Veja as dez empresas mais inovadoras do país no ranking Valor Inovação Brasil 2023. Valor, 01 agosto 2023. Inovação. Disponível em: Veja as dez empresas mais inovadoras do país no ranking Valor Inovação Brasil 2023 | Inovação | Valor Econômico (globo.com). Acesso em: 14 agosto 2023.
Engenheira Química e Mestre em Engenharia Química pela UFU - Universidade Federal de Uberlândia; Especialista em Inovação Tecnológica pelo MIT XPRO, certificada em Agile Project Management pela Coursera e em Leading Diverse Teams & Organizations pela University of Michigan. Experiência em coordenação de Projetos de PD&I, implantação de Innovation Management, Incentivos fiscais à inovação tecnológica, Funding para Inovação, Parcerias Estratégicas para Open Innovation com startups, universidades e centro de pesquisa, parques tecnológicos, aceleradoras e incubadoras.